A endometriose é uma doença crônica que afeta de 10% a 15% das mulheres e meninas no mundo, o que representa aproximadamente uma população de 190 milhões, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, estima-se que 8 milhões de pessoas convivem com a doença, muitas delas enfrentando cerca de 7 a 10 anos de espera pelo diagnóstico. Além de causar uma cólica severa em milhões de adolescentes, muitas desde as primeiras menstruações, sem diagnóstico ou acompanhamento, a endometriose também é a causa de cerca de 50% dos casos de infertilidade feminina.
Com o objetivo de ampliar o conhecimento científico e melhorar o cuidado com a população afetadas pela doença, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, recebeu o CEO e diretor de Políticas e Direitos de Crianças e Adolescentes do Instituto Alana, Pedro Hartung, para firmar uma parceria estratégica e fortalecer a pesquisa, inovação e formulação de políticas públicas voltadas à saúde menstrual e ao enfrentamento da endometriose no País.
“Fortalecer a pesquisa científica nessa área é essencial para garantir diagnóstico precoce, tratamento adequado e políticas públicas mais eficazes. A ciência precisa estar a serviço do SUS [Sistema Único de Saúde] e da população brasileira, ajudando a reduzir desigualdades e promovendo saúde e qualidade de vida. Como primeira ministra mulher da Ciência, Tecnologia e Inovação, considero nosso dever trazer esse tema para o centro da agenda científica nacional”, afirmou Luciana Santos, durante o encontro na terça-feira (14).
O CEO do Instituto Alana, Pedro Hartung, destacou que a parceria marca um novo momento na cooperação com MCTI, reforçando o compromisso conjunto com a ciência e a inovação voltadas a temas de impacto social. “O Instituto Alana tem atuado em quatro áreas prioritárias: natureza, biodiversidade e clima, pessoa com deficiência e síndrome de Down, tema que resultou na criação da Rede Buriti, uma iniciativa de pesquisa colaborativa construída junto ao ministério. Nesta nova etapa, nosso foco é ampliar a agenda científica em torno da endometriose, da dor e da saúde menstrual”, disse Hartung. A parceria com o MCTI foi celebrada por meio da Secretaria de Políticas e Programas Estratégicos (Seppe), do MCTI.
Desafios e impactos
A endometriose não é apenas um problema de saúde individual: ela tem reflexos diretos na economia e na qualidade de vida das mulheres. Estudos apontam que pacientes com sintomas da doença perdem em média 10,8 horas de trabalho por semana e que a condição está associada a uma redução média de US$ 620 anuais na renda individual.
Entre adolescentes, a cólica menstrual severa — que atinge cerca de 25 milhões de brasileiros — é uma das principais causas de absenteísmo escolar. “A cólica menstrual severa afeta entre 30% e 45% da população jovem, o que corresponde a cerca de 25 milhões de adolescentes, com muitos casos sem diagnóstico ou acompanhamento adequado”, afirmou a líder de projetos de pesquisa científica e de saúde do Instituto Alana, Claudia Moreira.
A parceria entre o MCTI e o Instituto Alana busca enfrentar essas lacunas com base em evidências científicas e inovação tecnológica, priorizando o bem-estar integral e o fortalecimento das políticas públicas voltadas à saúde menstrual.
Investir em ciência é cuidar das pessoas
O projeto apresentado pelo Instituto Alana prevê a criação de uma Rede Nacional de Informações Clínicas e Cirúrgicas sobre dor pélvica e endometriose, a implementação de biobancos integrados e o acompanhamento, por meio de cortes longitudinais, de pacientes com sintomas menstruais e endometriose.
Essas ações permitirão a construção de um mapa epidemiológico real da doença no Brasil, subsidiando políticas públicas de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento personalizado. A iniciativa também incorpora o uso de inteligência artificial e ciência de dados para apoiar pesquisas genômicas e o desenvolvimento de terapias inovadoras e menos invasivas.
Democratizar o acesso
A ministra também ressaltou a importância de romper tabus e democratizar o acesso a soluções tecnológicas que promovam dignidade menstrual. “Como mãe, vejo de perto isso. Tenho uma filha de 13 anos que, como muitas meninas, sente constrangimento de falar sobre o assunto ou de participar de atividades quando o fluxo é intenso”, contou.
A chefe da pasta complementou que é preciso desconstruir estigmas e ampliar o diálogo sobre o tema. “Quando olhamos para a realidade das comunidades populares, o desafio é ainda maior: muitas não têm acesso nem a um absorvente adequado. Por isso, é tão importante incentivar soluções científicas e tecnológicas acessíveis, sustentáveis e produzidas por jovens pesquisadoras, como temos visto nas nossas Semanas Nacionais de Ciência e Tecnologia”, destacou.
Durante a reunião, foram discutidas novas ações de cooperação entre o MCTI e o Instituto Alana, incluindo a proposta de lançamento de um edital conjunto com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), voltado à pesquisa em saúde menstrual e doenças relacionadas à endometriose, com abordagem de ciência cidadã e colaborativa.