Entre fósseis, réplicas de dinossauros e atividades interativas, o estande dos geoparques do Brasil é um dos destaques da 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). O espaço convida o público a mergulhar em milhões de anos de história da terra e a entender como o estudo do passado ajuda a planejar um futuro mais sustentável.
No local, visitantes de todas as idades podem aprender de forma lúdica sobre o trabalho dos paleontólogos, tocar em materiais que simulam fezes fossilizadas de dinossauros, os chamados coprólitos, e participar de experiências que mostram como ciência e turismo podem caminhar juntos.
A paleontóloga Isadora Pizzi, uma das responsáveis pelo estande, explica que o espaço apresenta três dos geoparques brasileiros reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco): Uberaba (MG), Araripe (CE) e Quarta Colônia (RS), todos com fósseis de dinossauros e grande valor científico e educativo. “Cada geoparque tem um enfoque diferente, mas todos mostram a importância de preservar e estudar nosso patrimônio natural”, explica Isadora. “A gente tenta trazer esse conhecimento científico de uma forma palpável, para que as pessoas possam ver, tocar e entender o que é a paleontologia. Temos fósseis, réplicas e experiências sensoriais que despertam curiosidade e encantamento”, explica.
Ela lembra que o trabalho do paleontólogo vai muito além de descobrir fósseis. “O paleontólogo é um cientista que estuda a vida pretérita, antes dos humanos. Trabalhamos com plantas, animais, pegadas e até com fezes fossilizadas. Eu, por exemplo, estudo crocodilos fósseis e faço biomecânica pra entender como eles se locomoviam. Descrever espécies é só uma parte do que fazemos. Estudando o passado, conseguimos entender o presente e até prever padrões das mudanças climáticas”, ensina a cientista.
A proposta do estande dos Geoparques na SNCT é justamente transformar o conhecimento científico em uma experiência sensorial e divertida. “Os pais trazem as crianças como desculpa, mas acabam participando também”, brinca Isadora. “É um tema que desperta o interesse de todo mundo. É bonito ver esse encantamento entre gerações”, afirma.
A estudante Ana Luiza Ribeiro, de 13 anos, da rede pública do Distrito Federal, participou da experiência de tocar os coprólitos, o que simulava as fezes de dinossauros. “Parecia mexer em argila. É estranho e legal ao mesmo tempo, porque a gente imagina que está tocando em algo que só se conhece em filmes”, detalha a estudante.
Já Pedro Silva, de 8 anos, se divertiu nas atividades de escavação. “Eu sempre gostei muito dos dinossauros. Foi legal participar da busca de um deles. Já assisti filmes com dinossauros e tenho alguns brinquedos em casa. Aqui tem uns bem grandes, tudo muito legal”, descreveu empolgado.
Geoparques no Brasil
O Brasil tem atualmente seis Geoparques Mundiais da Unesco. O Geoparque Araripe, no Ceará, foi o primeiro das Américas, designado em 2006. Em 2022, foram reconhecidos os geoparques Seridó (RN) e Caminhos dos Cânions do Sul (SC/RS). Já em 2023, os parques de Caçapava e Quarta Colônia, ambos no Rio Grande do Sul, também receberam a chancela internacional. O mais recente é o Geoparque Uberaba, em Minas Gerais, designado em 2024.
Essas áreas são territórios unificados de relevância geológica internacional, administrados com uma visão integrada de proteção, educação e desenvolvimento sustentável. A proposta dos geoparques é conectar ciência e comunidade, envolvendo a população local e promovendo o turismo responsável como ferramenta de valorização cultural e geração de renda. “Quando estudamos fósseis e as transformações do planeta ao longo de milhões de anos, entendemos melhor como lidar com os desafios atuais, a ciência dos geoparques ajuda a pensar o futuro a partir do passado”, detalha Isadora Pizzi.
Além do valor científico, os geoparques são destinos de turismo. É possível visitar trilhas, formações rochosas e museus naturais que contam a história da Terra em cenários de rara beleza. No Geoparque Araripe, os visitantes conhecem fósseis do período Cretáceo, entre eles o Ubirajara jubatus, um pequeno dinossauro com penas.
Já o Geoparque Uberaba preserva vestígios dos últimos dinossauros que viveram no Brasil, como o gigante Uberabatitan ribeiroi. No Geoparque Quarta Colônia, no Rio Grande do Sul, estão fósseis de animais do período Triássico, como os dicinodontes, cujas presas e fezes fossilizadas ajudam a compreender os ecossistemas de 240 milhões de anos atrás.
