Nesta terça-feira,15, a 77ª Reunião da SBPC trouxe para debate um tema que desperta curiosidade e conhecimento para a sociedade. A mesa “Tecnologia Social e Solidariedade” reuniu especialistas que relataram experiências e conceitos que unem inovação e compromisso social.
A tecnologia social foi apresentada como uma nova combinação de práticas e saberes desenvolvidos em contextos específicos, com o objetivo de enfrentar problemas concretos da população de forma participativa, inclusiva e sustentável.
Coordenada pelo pesquisador Samuel Goldenberg, da Fiocruz, a mesa contou com a participação do professor Renato Peixoto Dagnino, da Unicamp, que abordou as relações entre ciência, tecnologia, desenvolvimento econômico e sociedade, destacando que, em países capitalistas como o Brasil, a ciência e a economia operam dentro de uma lógica desigual.
O professor criticou o distanciamento entre a formação acadêmica e o setor produtivo, lembrando que, embora o país forme cerca de 90 mil mestres e doutores por ano, poucos atuam em empresas com foco em pesquisa. Dagnino também defendeu uma política científica voltada para experiências contra-hegemônicas nas universidades e se posicionou contra o modelo de empreendedorismo dominante, chamando atenção para conceitos como transferência de conhecimento, mais-valia e o enriquecimento empresarial às custas do trabalho alheio.
Por fim, reforçou a necessidade de integrar ciência e tecnologia de forma crítica e comprometida com a transformação social
O outro convidado foi o professor Ricardo Toledo Neder, da UnB, que iniciou sua fala com um protesto contundente contra o massacre do povo palestino. Em seguida, trouxe uma reflexão sobre a dialética negativa da tecnologia social e a urgência de conectar esse debate a questões emergentes. Ele criticou o avanço da tecnociência voltada para a destruição e defendeu a formação de profissionais comprometidos com a vida, com a justiça e com a preservação da força de trabalho humana. Para ele, é preciso lucidez para reconstruir uma ciência voltada à emancipação social, e não à reprodução de desigualdades
A professora Regina Oliveira da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), apresentou experiências desenvolvidas na região amazônica, mostrando como a tecnologia social pode ser um instrumento de transformação real.
Ela enfatizou o potencial em termos de eficácia, possibilidade de multiplicação e desenvolvimento de soluções para problemas que afetam populações em situação de vulnerabilidade.
De acordo com a professora, a tecnologia social deve promover participação, reunir saberes locais e acadêmicos, fortalecer práticas socioprodutivas e ser replicável, respeitando os contextos locais.
Osecretários de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Inácio Arruda, destacou os desafios enfrentados pelo governo federal diante das adversidades políticas e econômicas, mas reafirmou os esforços do presidente Lula em retomar os investimentos em ciência, tecnologia e educação.
Ele mencionou ações voltadas ao fortalecimento das universidades públicas e dos órgãos de pesquisa, como parte de uma estratégia para impulsionar o desenvolvimento social e garantir o protagonismo do Brasil na produção de conhecimento.
Por Ellen Lacerda